domingo, 11 de maio de 2008

Dela, não meus

«Hoje acordei e soube que devia correr, sair dali o mais depressa que os meus pés me pudessem levar. Não queria que ele acordasse e me visse. Teria de sorrir, fazer conversa miúda como quem está numa paragem há espera de um autocarro para o trabalho, e no fim teria de escolher entre um 'estou atrasada, é melhor ir' e o sempre conveniente 'vou-me embora, depois falamos ok?!'.

Mas nestas alturas tudo nos parece atrasar. - Falta-me o top. Não sei onde ele está. Pensa: chegaste e o que fizeram?! Não me lembro. ah, aqui está. - E recolhi tudo tabelado como meu. Olhei para trás antes de partir. Ainda cheguei a pensar se lhe deixaria um bilhete, alguma coisa. E foi este pensamento que me levou embora.

Fez-me recordar enquanto me passeava pelos jardins com os raios de sol a romper o sombrio das árvores. Ainda me lembro daquela vez em que deixei. Ele era especial e fazia-me sentir insegura enquanto me tornava da altura do mundo. Deixei-lhe um pequeno origami dentro do seu livro preferido... Tinha me confessado nessa noite que era aquele o seu preferido de entre mais de mil e eu queria ser a sua. Acho que nunca voltou a lê-lo... Pelo menos não a tempo de ainda haver um tempo.

E de repente sentei-me no meio do verde. Deitei-me e fiquei ali. Uma gargalhada ao passar em revista cada um que me preencheu a cada a noite. E devagar fui sorrindo até ficar com o olhar mais triste. Não o vi mas senti a tristeza trespassar-me os olhos e a descer-me pela face. Era ali que eu percebia o quanto tudo tinha mudado. As primeiras vezes eram de apaixonada. Menina que pensava deter o mundo. Era para sempre. Era meu. Eu era dele. E não partia. Se o sol nascia era para os dois. Se ele tardava, deixávamos os dois para depois.

Jurei que nunca mais recordaria esses tempos. Passei muito até saber ir embora a cada amanhecer. Mas sinto saudades da menina que não pensava ter de aprender a sair num sussurro...

S., Maio 2008»

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