quarta-feira, 28 de maio de 2008

good things come to those who wait

Hoje é sem imagem porque não lhe sei imaginar.
Hoje é sem tempo porque esse anda distraído a lutar contra o seu semblante. Corre, pula para chegar mais depressa ao fim, talvez por pensar que quer reviver o seu início.

Hoje é sem ti. Ficaste há muito lá trás. Ainda me lembro de cada vez que me fizeste exacerbar um conceito e lembro me estranhamente do momento em que te larguei. Não é vulgar, não é banal porque nunca soube de ninguém que se recordasse do instante preciso. Eu sim. O segundo, o odor do espaço, a nossa distância, o cenário de pessoas... E como te deixei ali. Nunca mais te pedi para me seguíres, nunca mais te carreguei baixinho nos meus pés.

Já culpei o destino, criador de situações com que não sonhamos, já te culpei a ti, já me culpei a mim. Hoje é sem culpas...

Hoje é com o coração em espera e com a mente em linha que se vai transferindo... A música é invariavelmente enervante.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

G-L-A-M-O-R-O-U-S

Às vezes sabe bem viver bem. Não é preciso muito. Basta sentirmo-nos capazes de ser. Basta sentirmos que somos mais porque somos nós.

Aí criamos saltos altos, brilhos mudos e exuberantes. O andar transforma-se em afirmação e vamos com o sentido de podermos chegar onde quisermos. E se de repente não quisermos mais partir, voltamos para a paragem que acharmos melhor.

Livin' the life
In the fast lane
And I wont change
By the glamorous, oh the flossy flossy
Cause I remember yesterday
When I dreamt about the days

domingo, 11 de maio de 2008

Dela, não meus

«Hoje acordei e soube que devia correr, sair dali o mais depressa que os meus pés me pudessem levar. Não queria que ele acordasse e me visse. Teria de sorrir, fazer conversa miúda como quem está numa paragem há espera de um autocarro para o trabalho, e no fim teria de escolher entre um 'estou atrasada, é melhor ir' e o sempre conveniente 'vou-me embora, depois falamos ok?!'.

Mas nestas alturas tudo nos parece atrasar. - Falta-me o top. Não sei onde ele está. Pensa: chegaste e o que fizeram?! Não me lembro. ah, aqui está. - E recolhi tudo tabelado como meu. Olhei para trás antes de partir. Ainda cheguei a pensar se lhe deixaria um bilhete, alguma coisa. E foi este pensamento que me levou embora.

Fez-me recordar enquanto me passeava pelos jardins com os raios de sol a romper o sombrio das árvores. Ainda me lembro daquela vez em que deixei. Ele era especial e fazia-me sentir insegura enquanto me tornava da altura do mundo. Deixei-lhe um pequeno origami dentro do seu livro preferido... Tinha me confessado nessa noite que era aquele o seu preferido de entre mais de mil e eu queria ser a sua. Acho que nunca voltou a lê-lo... Pelo menos não a tempo de ainda haver um tempo.

E de repente sentei-me no meio do verde. Deitei-me e fiquei ali. Uma gargalhada ao passar em revista cada um que me preencheu a cada a noite. E devagar fui sorrindo até ficar com o olhar mais triste. Não o vi mas senti a tristeza trespassar-me os olhos e a descer-me pela face. Era ali que eu percebia o quanto tudo tinha mudado. As primeiras vezes eram de apaixonada. Menina que pensava deter o mundo. Era para sempre. Era meu. Eu era dele. E não partia. Se o sol nascia era para os dois. Se ele tardava, deixávamos os dois para depois.

Jurei que nunca mais recordaria esses tempos. Passei muito até saber ir embora a cada amanhecer. Mas sinto saudades da menina que não pensava ter de aprender a sair num sussurro...

S., Maio 2008»

sexta-feira, 9 de maio de 2008

in silence

Não te sei pintar. Mas podia escrever te um livro de coisas. Sei as palavras de cor e as frases vão saltando de linha em linha, como se fluíssem a cada conjunto que te queria saber dar. Mas parece-me tão pequeno. Usar o que toda a gente usa. Elas próprias nos obrigam a lê-las em cada cartaz que povoa as ruas e as esquinas.

Talvez reste apenas um telefonema em silêncio. Porque se as minhas me parecem formigas, as tuas são gigantes que me gritam 'saudade'.

Não chega. Pode ser que entretanto aprenda a fazer bastar.

'Just a word that we could say,
That would burn this silent door'

quinta-feira, 8 de maio de 2008

farewell

E enquanto caminhava a passos apertados cruzei-me numa esquina com milhares de bolas de sabão. Ele fazia umas a seguir a outras e eu lembrava-me de quando também eu as sabia soprar. E uma desfez-se como que por engano nos dedos que não consegui impedir que a procurassem.

Sei que tens algo que nunca ouvi para contar. Mas sei que não quero saber. Guarda. Contas a quem vier depois porque eu já estou de partida. Talvez depois, se eu souber voltar.


Farewell.

'Run, run my sparkling light. Have your fun and then come home at night...'

sexta-feira, 2 de maio de 2008

terrivelmente bom

E num espaço que se foi fechando em mim, as músicas foram fluindo, chegando e foram naturalmente saltando dentro. A playlist fora feita à minha medida. A ordem copiava a minha desordem e eu dizia baixinho. Elas foram feitas como as minhas mãos: inatas, perfeitas para ter o que eu conseguir agarrar. Não preciso de mais.

E perdi me. Vagueei. E teimo em não me querer desfazer do que me faz ser como alguém me contou em silêncio...

«És genuina... e isso fica te terrivelmente bem...»

Um dia ainda irei calçar esses sapatos vermelhos que não levei e serei gigante... e irei onde os meus sapatos me quiserem levar.