quinta-feira, 27 de março de 2008

sometimes nothing stays on the middle

Tudo depende do tom. Dizemos mil vezes a mesma coisa mas nunca ela quer dizer o mesmo. Vemos dezenas de pessoas todos os dias. Pessoas iguais que passam mas nunca as vemos de igual forma. Conhecemos várias pessoas mas nunca sentimos o mesmo. Depende do tom que lhes damos e que lhes encontramos sem sabermos bem porquê. Algo nos salta à vista, algo sobressai, algo nos faz voltar a pensar. E nunca pensamos o mesmo de duas pessoas.

Eu penso-te em preto. E eu sou simplesmente em branco.

quarta-feira, 26 de março de 2008

one day

E explico-me tantas vezes que chego a perder a vontade. E ensaio-me até perder o som das horas que acabo por não lhe querer mostrar. Canso-me. E o ar torna-se um fardo mais pesado.

Mas por muitas tentativas a que me permita, apetece-me sempre dizer:

go with it. stay.
this is vienna.

terça-feira, 25 de março de 2008

história de crianças

- Quando for grande eu vou ser um gigante com dez metros. E vou comer tudo o que quiser. Azul, vou ser azul. Gosto de azul, mas não aquele de menina. E..
- Mas tu és uma rapariga. Eu gosto do amarelo. O sol é amarelo e eu desenho sempre o sol porque é fácil.
-E vou ser mau, mas não te preocupes que não te mato. Somos amigos.

[...]

-Lembras-te de quando querias ser um monstro?!
- Não era um monstro. Eu queria ser um gigante amarelo.
- Azul. Tu querias ser azul. Mas não aquele de rapariga. Eu é que gostava de amarelo. Era por causa do sol ou algo assim. Ou por outra coisa qualquer. Já nem me lembro.
-As crianças são fantásticas e imaginam sempre o mundo de maneira estranha.
- Gosto de ti.
- Como é que consegues? Eu sou um gigante azul!
- Mas não comeste tudo o que quiseste. E deixa-me dizer que não és bem azul...Desculpa mas também és um bocado ana para gigante.
- Ninguém é perfeito...

[...]

- Olá.
- Olá. Por aqui?
- É, parece que sim.
- Prazer em ver te.
- Xau
- Xau.
- Espera. Podemos falar?
- Acho que sim.
- Nunca mais falamos...
- Acho que não tinha mais nada para dizer.
- Mas eu tinha para te perguntar... Porque nos afastamos? Depois de tanto tempo...
- O amor acaba. Não mandamos nisso.
- Mas nós eramos amigos.. Ainda me lembro que querias ser um gigante a...
- Não digas parvoíces.
- Mas não eram parvoíces.
- As pessoas crescem.
- Mas não têm que mudar.
- Eu mudei. Tu mudaste. Não vamos falar mais disto. Não existe volta.
- Também não queria voltar. Queria apenas poder contar te...
- É melhor não. Não me leves a mal. Mas acabou.
- E tu não me leves a mim a mal mas a nossa história já não me diz nada. Apenas queria que a minha amiga de outras histórias, mais antigas e com o cheiro de velhos tempos, soubesse que estou feliz. Encontrei uma história simples porque só assim faz sentido. Uma história de gigantes que gostam de parvoíces. Mas já não és a menina que brincava comigo à janela. Pena.
- Mas...
- Adeus.
- Adeus.

segunda-feira, 24 de março de 2008

and do you believe in coincidences?

Bastou achar que sim.

Há coisas que se querem assim. Olhei o mundo com um jeito de criança, senti-me imatura, senti-me simples. Sorri para ti e tu não disseste que não. Apenas repetiste o que eu te devolvi. É bom saber que hoje fomos naturalmente nós. Bastou.

E se no próximo minuto o tempo mudar, não faz mal. Já tive o meu.

Hoje pude:)

- because there are things we just won't fight back. A fight is not always a good one and we cannot win it all. So just go with it.

domingo, 23 de março de 2008

On the agenda

E quando estamos tristes resolvemos deter o direito de inventar razões. Culpamos o tempo, os problemas, o trabalho. Culpamos as pessoas, a sorte e o destino. Culpamos as coisas porque é mais fácil assim. Basta acusarmos algo, o quê não tem a importância devida. Apenas está lá.

Eu resolvo deter outro direito diferente. Anoto na agenda: mudar estado de espírito amanhã...

E por vezes basta pensar que amanhã estaremos felizes. Amanhã porque os dias não têm de ser sempre iguais. Pelo menos o dia vai acordar de forma diferente. Amanhã ele terá de cumprir uma agenda.


Tomorrow may be different and quite better...

sábado, 22 de março de 2008

my book shelf

E arrumo-os em linhas direitas e em compartimentos estanques. Já percorri todos mas por vezes, descomprometidas e casuais, vejo-me pegar num para o rever. Sei o de cor e conheço lhe o fim. Mas não importa porque tem sempre a magia de cada toque, razão porque lhe pego. E de tantas vezes o repetir, chego a inventar pontos e pontes. E perco o lugar onde estava. Deixo de me recordar onde ele cabia.

Mas não são livros. São estórias. Tuas, minhas, nossas. Guardadas em prateleiras imaginárias e fugazes.

E sempre que lhes sinto o peso do tempo, penso. Será que também lhes conheces as cores?

sexta-feira, 21 de março de 2008

my redshoes

Sentei-me e devagar ousei tentar te ler como quem lê um livro, como quem lê a palma da mão. Não consegui virar as páginas nem descobri o que as tuas linhas me queriam contar. Com o tempo entendi que te tinha de aprender. E fui engolindo o que ia adivinhando aos poucos. E fui guardando para mais tarde os significados que desconhecia.

Um dia entristeci por ver que iria demorar eternamente para te desmontar e que talvez nunca soubesse como te juntar de novo.

Até que sorri.

Não é saber-te de cor que eu procurava. Era ir te descobrindo aos poucos. Como se desata o laço do presente mais frágil, queria ficar ali devagar, sem saltar passos, sem escolher atalhos.

Nesse instante, calcei os meus sapatos vermelhos e comecei a passear nos pedaços que vou guardando. Comecei a vaguear em ti.


- take me with you...
- but I just met you...

- and yet you can learn me.

quarta-feira, 19 de março de 2008

diz-me

Tentei brincar com elas, tirá-las de um contexto e dar uma roupagem estranhamente natural. Criei sentidos e deixei os meus evadirem-se. Rasguei-as para lhes arrancar as memórias. Colei-as quando uma me disse "saudade". Misturei-as e fui tirando à sorte.

Junto tudo e faço nascer uma forma. Desfaço e espero recriar o que procuro calmamente.

Mas aprendi que não importa o que com elas faça. Nada. É quando não as uso, é quando as guardo que mais digo. E quando não lhes vejo sentido e o que sobra são parvoíces que se emaranham, percebo. Entendo que é engraçado saber moldá-las. Entendo que o que se esconde e cala é bem mais importante.

As palavras são isso mesmo. Apenas palavras. O que fica por dizer é o que nos conta os maiores segredos.

-E que tem ficado por dizer?
-Tudo o que é importante para nós.
-E não há nada que me possas deixar guardar?

[e um silêncio toca a pele]

-Acabei de deixar.

terça-feira, 18 de março de 2008

and all that jazz

A minha música não é um ser maior ou menor do que a tua é. Apenas tocam em faixas diferentes. São o inverso e o reverso da moeda.

E num toque tão suave que nem senti... e por um engano agradável... um clique que não quis e foi como se o leitor escolhesse por mim. Espero e um sorriso espera-me. A música começa. Calmamente leio: Let's fall in love - Diana Krall.

Sinto-te a jazz. Simplesmente se estranha, naturalmente que se entranha. Não é mais, não é menos. É um vício.


I'm concealing, I don't know why...
Little we know of it

domingo, 16 de março de 2008

a red mirror

-Por que me olhas assim?
-Não sei ver te de outra forma.
-E o que vês?
-Vejo te a ti.
-Mas isso toda a gente vê. Não te faz especial...
-Não me ouviste? Vejo te.
-E o que queres dizer com isso?
-Que não vejo a ideia que têm de ti e não vejo o que queres que eu veja.
-Mas eu não quero que vejas algo de diferente em mim.
-Queres que olhe para ti e descubra a imagem que criaste. Não o faço.
-Então diz-me quem sou... ou o que pensas que eu sou...
-Não penso. Sei. És do tamanho do que pensas. Grandiosa como os teus mais brilhantes pensamentos e tão mesquinha quanto o que idealizares.
-Então sou tudo o que os outros são...
-Não. És tudo o que resolveste ser.

sábado, 15 de março de 2008

cafe para dois

Inquieta-me o descompasso. Inquietas-me. Passeio-me e cheira a cidades grandes com prédios que tocam o céu. Cheira-me a outros lugares. Sinto-me numa Nova Iorque cinzenta a meu gosto. O café vem para a mesa e divide-se pelas conversas que se interpelam. O barulho ao fundo faz o ambiente de novas histórias sobre velhos contos que se repetem. Estranhamente sinto nos estranhos a sensação de casa. E de repente, não mais que de repente, inquieto-me. O cigarro deixa na roupa um cheiro que ultimamente me recorda outras paragens em que ainda não saí.


An unquiet feeling. But not so far of a quiet time.

sexta-feira, 14 de março de 2008

sussurra-me

Dói-me a cabeça de tanto me pesarem os pensamentos.
Carrego-os de trás para a frente, por onde vou.
Dói-me a criança inconsciente por já ter aprendido a ser descrente.

Hoje era uma noite em que ficava em silêncio. Dividido.




Entra. A porta está fechada. Abre-a. E fica em silêncio. Quero ficar num silêncio a dois.

quinta-feira, 13 de março de 2008

To many petals on my ground

O mesmo chão. O meu espaço. As mesmas quatro paredes. O mesmo ar. Passos que não se repetem e pessoas que não se reconhecem. Cristalizo-me em rotações infindáveis. Questiono as ordens do tempo e pairo por cima de ti. Cresço de fora para dentro e não me revejo em estereótipos formatados por estranhos.

Senta-te. Eu explico se me deres o tempo para ter o teu tempo. Sou eu.


Slow down world. Just stay.

quarta-feira, 12 de março de 2008

naturalmente simples

Mistura-se, rebobina-se e cruzam-se as fitas. Play, pause and rewind e as teclas mudam-se de sítio. Tudo se complica em fracções de tempo. Cria-se, inventa-se e reorganiza-se. E perdemos o ponto de partida. Dependemos do mundo e das suas vontades infinitas, mas sabemos que há algo nosso que simplifica os passos que não deixamos entrar.

Quando de simples só lhe resta a vontade, não vale a pena pisar esse arame que de tão fino já só nos faz tremer.

If it was not made to be simple, it wouldn't be natural.

terça-feira, 11 de março de 2008

um não-dizer

é engraçado como caminhamos por ruas que não são nossas, como paramos em lugares alugados.
é engraçado como nos emprestam sorrisos que não nos pertencem e como as palavras são devolvidas em cada ponto final.
é engraçado como damos o que é nosso e nos entregam um usado com prazo de validade.
é engraçado como nos vemos e revemos em circunstancias desiguais que retornam ao ponto de partida na hora da vinda.
é engraçado como nos contentamos com esse pouco quando não temos nada... e como queremos mais quando já temos muito.

silêncio. fica em silêncio. esse sei que não é igual. sem cupões de troca.
fica. agradavelmente em silêncio.
partilhemos o que mais ninguém consegue dizer. não digas nada.

segunda-feira, 10 de março de 2008

eu do avesso

pensamos no mundo, pensamos nos dias, pensamos no tempo e nas suas formas passadas, presentes e futuras.
pensamos nas pessoas, nos estranhos, pensamos nas coisas.
pensamos nas músicas e nos carros que passam.
pensamos nas aulas, no trabalho e no que não temos.
pensamos no que queremos, pensamos no que perdemos.
pensamos no avesso dos momentos que soubemos guardar e nos pedaços que jogamos fora.
pensamos em agendas, em palavras e em construções de papel.
mas o tempo esgota-se e hoje não pensamos em nós.
se eu olhar para o espelho e pensar em ti, estarás tu a pensar no que também vês?

domingo, 9 de março de 2008

a bailarina e a bolha de sabão

porque há coisas que se querem mais que perfeitas e há momentos que se querem no imperfeito. há coisas que nos caem no colo que têm de ser simples, fáceis, imaturas e agradavelmente silenciosas. quando as coisas nos baralham e não têm um futuro que sabemos declinar, tendemos a voltar atrás e a fazer delete mas nem sempre conseguimos. porque há coisas que não controlamos. são elas que mandam e nós... nós ficamo nos pelo pouco que nos faz feliz.



and this girl tries her best every day...

terça-feira, 4 de março de 2008

vai e volta

quase frio, quase quente.
quase cetim, quase espinho.
quase um sorriso, quase um olhar que se afasta.
quase uma palavra, quase um som.
quase cereja, quase limão.
quase...
um quase sabe sempre a quase tanto e a quase nada.

segunda-feira, 3 de março de 2008

fico

e corro, corro, corro. e sinto que não saio do lugar. ando, caminho, percorro. mas estou sempre no mesmo sítio. nada muda. só eu fico cada vez mais cansada. o ar foge. o tempo pára. a paisagem permanece. os dias repetem-se.

sábado, 1 de março de 2008

the dance of youth

só queria que fosse sábado e o tempo fez-me a vontade.

pintei-me de calças pretas, uma camisola larga e um lenço. gosto de lenços nas tardes quentes e de cachecóis em noites frias. amarrei o cabelo porque hoje não me queria preocupar com nada que me incomodasse. óculos de sol para ele só me tocar de leve na cara e saí. um gelado, um passeio pela cidade. já não lhe conhecia as cores e reconhecemo-nos num encontro descontraído e casual.

pelos jardins, parecia criança enquanto o gelado se derretia pelas mãos. sorri. nem tudo mudara.

as pessoas de sempre num sitio diferente. repensei o de ontem e vi o quanto é bom acharmo-nos nos outros e poder tê-los em nós. e senti no ar um quadro de picasso bem diferente e trapalhão.

não te invejo, nem te invejo essa inveja. tenho o que preciso e que vou encontrando nos tropeços dos dias.