terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

sonho de uma noite de inverno

todos nascemos com um bichinho cá dentro que se agita na pertinência de alcançar algo. o meu bichinho foram os palcos. os palcos próprios, os inventados, os improvisados. o palco chama por ele sempre que o vê. dizem que pisá-lo é como «fazer amor pela primeira vez». só que a vez é sempre a primeira e repete-se como um disco riscado. o frio, o quente, o toque, o cheiro... as cortinas que arrepiam levemente a pele e algo por partilhar.

uma máscara que é usada vezes sem conta mas que nunca é nossa. pisei vários, nunca esqueci nenhum. costumo guardar os cheiros de cada lugar. não foi excepção. costumo guardar os primeiros olhares que se cruzam e que muitas vezes encaro sem ver. não foi excepção.

mas guardei as personagens, encostei as expressões naturalmente exacerbadas. fingi que deixou de me fazer tremer na ânsia de me outrar. troquei os palcos por um. este. o de sempre. o do dia. mas a métrica, essa é a mesma e revejo-a vezes elipsadas e tontas. só a amplitude e a irreversibilidade se altera e desconstrói.

cada lugar que tenciono re-conhecer fica sempre algo por ver. é a razão que dita o regresso. lá atrás ficou Shakespeare.

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