sábado, 9 de agosto de 2008

Aquele Verão - Cap.I

Era Verão. Os dias longos. As tardes quentes. As roupas sobre a pele morena. "Também nunca foste branca" - já era costume ouvir. Mas nem por isso achava que era uma altura diferente. Fazia de conta que tudo estava na mesma, que nada lhe mudava as cores daqueles tempos. Só porque sim, por lhe parecer mais simples. Nunca gostara de suportar algo que fosse para além disso.

Mas a Rita sabia. E fora num desses dias em que achara ter-se enganado na morada que se lembrou. O cheiro a relva molhada num dia que amanhecia quente. Tinha ficado na memória esse aroma. O último Verão normal que passara. Os anos atropelaram-se entre esse tempo e agora. Nem sabe bem o que se meteu no meio. Mas já não é como era. Cresceu. Fez-se menina e depois criou-se mulher.

Os amigos tornaram-se visitas das que acontecem de mês a mês. Era Verão. E não era como os outros. Isso custava-lhe mais do que o sorriso dava a entender. Precisava de contar cada segundo do tempo que passava longe mas não podia. Talvez essa fosse a última fase por que tinha de passar até ser "o resto da vida". Os loucos anos de juventude tinham sido isso mesmo. Loucos. Juventude. Anos. Agora já não havia tempo nem espaço para não ter horas de voltar, para não se lembrar de nada, para pegar na mala e enche-la do que dizia ser básico. As roupas... nem essas se conheciam como iguais. E ela também não.

Sonhava já sonhos de outros temas. No entanto, a vontade permanecia. E naquele Verão tudo se alterava. Só a vontade sabia ficar. As culpas punha-as no dia que tinha poucas horas, nas pessoas que não compreendiam, nos transportes que não cumpriam horários. No fundo, a Rita sabia que por muito que fugisse já não conseguia ir embora. E o cheiro a relva molhada...percorria-lhe as memórias.

Nenhum comentário: